1. O MITO Segundo o mito, Quíron é filho de Saturno (Cronos) e da ninfa Filira. O deus, para se esconder da esposa Réia, se metamorfoseou em cavalo para se encontrar com Filira: dessa união nasceu o centauro, metade cavalo e metade homem. Quando a mãe viu a criatura horrorosa que havia posto no mundo, pediu aos deuses que a transformassem numa coisa diferente: seu pedido foi atendido, e ela foi transformada numa árvore chamada Tília.
Quíron ficou abandonado: o pai fugiu e a mãe não quis saber dele. Imortal, por ser filho de Saturno, Quíron sobreviveu, sendo encontrado por Apolo (deus do Sol dos gregos). Como pai adotivo, Apolo lhe ensinou todos os seus conhecimentos: artes, música, poesia, ética, filosofia, artes divinatórias e profecias, terapias curativas e ciência.
Adulto, tornou-se ele um grande sábio, profeta, médico e mestre, transmitindo seus conhecimentos a todos que desejassem aprender. Os heróis gregos (Hércules, Asclépio, Aquiles, Jason etc.) foram pupilos de Quíron, assim como os filhos dos reis da Grécia. Ele era o ‘centauro chefe’ e o preceptor máximo, tanto das artes da sobrevivência, como da cultura, da filosofia, e passou a orientar e burilar o intelecto dos discípulos, ficando conhecido também por preparar os futuros heróis. Quíron era ainda expert no uso da medicina de ervas e plantas e em Astrologia. Ele tinha o poder de cura nas mãos, e o que não conseguia curar, ninguém mais conseguia.
Mas um dia, durante a festa de casamento de um filho de um rei, os centauros convidados se embriagaram e começaram a perseguir as mulheres, inclusive a noiva. Travou-se uma batalha entre os centauros bêbados e os convidados, entre os quais estava Hércules, que, acidentalmente, feriu Quíron, também presente à festa, com uma flecha, ou na coxa, ou na perna, ou no pé (há várias versões) ou seja, na parte animal do corpo. A flecha de Hércules, que havia sido banhada no sangue da Hidra (e sendo portanto venenosa), causou em Quíron uma ferida incurável; impotente para curar seu ferimento e não podendo morrer por ser imortal, ele começou a sofrer intensamente, recolhendo-se a uma gruta no monte Pélion onde, porém, continuou transmitindo seus conhecimentos aos discípulos.
Por outro lado, Prometeu havia roubado o fogo dos deuses e dado para os homens, tendo sido, por isso, castigado por Zeus, que expressou que só o libertaria se um imortal abrisse mão de sua imortalidade e fosse para o Hades (reino subterrâneo, inferno) em seu lugar. Com pena de Prometeu e de Quíron, Hércules propôs a Zeus que soltasse Prometeu, pois Quíron faria isso: Zeus concordou, liberando Quíron de seu sofrimento, para morrer tranquilamente. O deus o homenageou, colocando-o no céu como a constelação de Sagitário (sagitta: flecha)
O ‘curador ferido’ ainda aparece em muitas das nossas palavras derivadas do grego antigo: a palavra cheir, que significa mão, compõe não somente o nome de Quíron (a forma antiga é Kheiron), mas também diversas palavras que servem para amplificar o arquétipo do Centauro Chefe: figura em quiromancia, quirografia, quiroprática e quirurgia, que veio a ser cirurgia.Na base de todas as derivações está cheir, a mão, que parece simbolizar o arquétipo de Quíron, que significa a união do intelecto com o instinto/mental e corpo/humano e animal. Talvez a melhor ilustração disso seja em algo muitas vezes expresso por artistas: que na criação de uma obra de arte entra primeiro a cabeça e depois a mão, denotando a avaliação final, se o trabalho será realmente inspirado ou meramente um exercício técnico.
E então, a partir do mito, aprendemos que o significado astrológico de Quíron abarca os arquétipos de Professor, Curador, Músico, Buscador, Mestre Astrólogo e Guia de Busca. Ele simboliza a auto-realização e a satisfação pessoal através de uma união holística da razão com a paixão, do intelecto com o instinto, do animal com o humano. Ele é estreitamente ligado com seu meio-irmão Júpiter, o tradicional regente de Sagitário e da Casa Nove – áreas do mapa astral ligadas com buscas de todos os tipos.
2. A descoberta de Quíron e suas implicações:a) O chamado planetóide Quíron, descoberto pelo astrólogo Charles T. Kowal, de um observatório na Califórnia (EUA), em 1º de dezembro de 1977, na verdade já havia sido fotografado desde 1895. Foi o que constataram os astrônomos de todo o mundo quando, alertados pela descoberta do novo corpo — que não sabiam ainda se era um cometa, um asteróide ou um planeta — começaram a pesquisar fotografias antigas do céu. Na época, os astrônomos não haviam se interessado por aquele ‘objeto’ desconhecido (v. mapa da descoberta, anexo); mas é interessante destacar o seguinte:
O glifo de Quíron parece uma ‘chave’, que pode ser interpretada como a chave para a busca da transmutação / transformação pessoal.
O símbolo sabiano para a posição de Quíron no mapa de sua descoberta menciona o ‘pote de ouro no fim do arco-íris’; Dane Rudhyar (o autor do livro sobre os símbolos sabianos) dá a chave para esse significado, como ‘a plenitude que flui da conexão com a natureza celestial (ou divina)’, e sugere que aponta para algum tipo de transubstanciação da matéria.
A posição do Ascendente, a 26°04’ de Sagitário, simboliza a identidade pessoal que Quíron projeta neste mundo; o grau correspondente é representado por um escultor trabalhando, uma clara indicação da habilidade que nós humanos temos para transformar a matéria de acordo com nossa visão pessoal; ocorre que o centro de nossa galáxia atualmente (09.06.06) se localiza a 26º56′ desse signo, o que torna esse posicionamento bastante destacado em termos energéticos.
A posição do Sol, em Escorpião, indica a transmutação da matéria (criando, de ordinários mortais, heróis míticos) e, com a posição do Ascendente, a realização da Busca (o pote de ouro no fim do arco-íris).
b) Destaca-se a analogia com o ‘Princípio da Sincronicidade’, de Jung: qualquer coisa que seja feita ou nasça num determinado momento, participa de ou revela o significado essencial desse momento. Podemos dizer que a Astrologia tem muito a ver com sincronicidade, o que quer dizer que esse fenômeno é muito anterior a Jung. O mapa natal revela o indivíduo porque revela o momento do seu nascimento. Assim sendo, o indivíduo, o mapa natal e o momento do nascimento são três facetas da mesma realidade.
c) As descobertas de Urano (em 1781), Netuno (em 1846) e Plutão (em 1930) tiveram a ver com eventos mundiais importantes para a humanidade, nessas épocas. Quanto a Quíron, talvez o assunto mais importante no mês de sua descoberta tenha sido, em 19.11.77, a reunião entre o presidente do Egito, Anwar Sadat, e o primeiro-ministro de Israel, Menachem Begin, para discutir a paz entre esses dois países, do que resultou o isolamento do Egito em relação aos seus vizinhos árabes; e isso deve ter contribuído para o assassinato de Sadat.
Em termos mais gerais, 1977 marcou uma época em que, pelo menos nos Estados Unidos, passou a ser focada muita atenção para o que veio a ser chamado de ‘Medicina Holística’.
Em vários exemplos ocorridos na segunda metade da década de 1970, podemos ver analogias com Quíron como um baluarte de sua raça, o único Centauro que deixou a companhia daqueles de sua espécie para buscar o que ele sentiu ser um caminho melhor de vida.
3. A órbita de QuíronA órbita de Quíron se completa entre 49 e 51 anos; como ela é bastante elíptica, quando ele está mais próximo do Sol, ela entre na de Saturno; e quando ele está mais longe do Sol, ela se aproxima da de Urano (mas não a cruza): unir esses dois opostos, como Quíron faz, é como criar uma forma holística de consciência, que transcende a tensão entre eles (por isso, simboliza uma ponte de ligação entre esses dois planetas). A natureza muito elíptica da órbita faz com que ele fique pouco tempo p.ex. em Libra (cerca de 1,75 anos) e muito tempo p.ex. em Áries (cerca de 8,25 anos), com as implicações decorrentes (sobretudo no que diz respeito ao tempo variável que decorre para as quadraturas e oposições).
4. Quíron nos hemisférios, nos quadrantes, nos elementos e nas modalidadesO livro citado de Richard Nolle² faz uma boa análise da posição de Quíron conforme título acima; entretanto, o que merece um destaque maior é sua presença nos hemisférios: no hemisfério inferior (mais ligado com o mundo interior do indivíduo) ou no hemisfério superior do mapa natal (mais ligado com o mundo exterior do indivíduo). Segundo aquele autor, quem tem Quíron no hemisfério inferior geralmente tem ‘uma inquietude subconsciente que trabalha sob o nível da percepção racional, para produzir oportunidade para crescimento transcendental.’ Já quem tem Quíron no hemisfério superior geralmente ‘tende a projetar a função de Quíron em outras pessoas; ao invés de iniciar independentemente o processo que leva a uma confrontação com o mestre interior, o indivíduo terá probabilidade maior de ser beneficiário de contatos com outras pessoas, que farão o papel de mestres.’
Exemplos destacados de Quíron no hemisfério inferior são os mapas de Sigmund Freud, C. G. Jung, Hermann Hesse, Mohandas K. Gandhi, Martin Luther King Jr. e John Lennon;, quanto à posição no hemisfério superior, podemos citar Annie Besant, Bob Dylan e Carlos Castaneda ( de acordo com o citado naquele livro). Mas o exemplo mais notável é o do conhecido astrólogo Dane Rudhyar: em um excelente artigo sobre Quíron³, Candy Hillenbrand cita que ‘Rudhyar foi o pioneiro (Áries) de uma abordagem Harmônica (Libra) para a Astrologia (Quíron), e essa se tornou sua maior contribuição para o mundo (Quíron em conjunção com o MC – a 12º06′ de Libra, nota deste autor). Rudhyar também foi artista, poeta, e compositor musical. Ele escreveu acerca de uma abordagem ‘estética’ para a vida, de uma maneira muito bem simbolizada por Quíron em Libra.’
5. Quíron nos signos e nas CasasSem dúvida, a aproximação e a abordagem de uma busca por transmutação / transformação será colorida pelo elemento e modalidade em que se encontra Quíron no mapa natal do indivíduo.
Entretanto, basicamente se pode dizer que Quíron nos signos geralmente indica a predominância de uma busca ou de uma crise, na vida presente: em Áries, a busca da identidade; em Touro, a busca de valores no plano material; em Gêmeos, uma crise pessoal com respeito à integração aqui na Terra, que afeta grandemente o equilíbrio e o sistema nervoso; em Câncer, uma crise relativa a raízes culturais e/ou uma crise de proteção pessoal (o indivíduo se sente preso ao passado); em Leão, uma grande crise do ego, que irá aperfeiçoar gradualmente o nativo, até a maestria da vontade; em Virgem, a busca de uma re-sintonia com a dinâmica da cura (inclusive interior); em Libra, a busca do equilíbrio do eu em relação ao outro; em Escorpião, uma crise de morte/transformação ou uma escolha significativa de viver, relacionada com os temas da Casa que contém Quíron; em Sagitário, uma crise relativa à integração do Eu Superior na consciência da pessoa; em Capricórnio, uma crise cármica em relação ao êxito na busca e ao equilíbrio na vida, entre o sucesso e a subsistência normal; em Aquário, uma crise quanto a estar fundamentado, quanto a viver na Terra de um modo equilibrado; em Peixe, uma crise a respeito de unir-se com a força divina, a unicidade universal. (Barbara Hand Clow).
Já Quíron nas Casas revela a qualidade da compreensão da vida em relação à alma; revela
o caminho da alma, o ponto de pedra-de-toque para a realidade multidimensional, e o método que o nativo deve aperfeiçoar para aprender a maneira de curar. (B.H.C.). Por exemplo, a chave para Quíron na C. 2 é ajudar os clientes a definirem melhor seus valores.
O aconselhamento mais eficiente com Quíron é sempre o de ajudar o cliente a tornar-se consciente dessa energia, para que possa dirigi-la melhor.
No primeiro livro (em termos de publicação) mais destacado sobre Quíron², Richard Nolle expressa o seguinte:
“A Astrologia, como é comumente praticada, é descritiva e fatalista. É usada como um meio para revelar um caráter supostamente imutável, para revelar um destino que é (mais ou menos) possível acontecer. A Astrologia simbolizada por Quíron é, por outro lado, criativa e transformativa. Ela não lhe diz meramente o que você é em termos de tantos traços de caráter. Ela não lhe mostra um mapa com tantas realidades alternativas, sendo que alguma combinação delas se provará ser o seu destino. Quíron, devemos lembrar, era um preceptor, alguém que as pessoas procuravam quando se preparavam para feitos heróicos. O supremo ato de heroísmo é a transformação do self, a criação do destino através da transcendência do fado. É a esse tipo de Astrologia criativa e alquímica que Quíron dá significado.”
6. Os aspectos com QuíronEm geral, o número de aspectos entre Quíron e os outros planetas indica o grau de poder de cura e os padrões de resposta alquímica natural no interior do nativo.
Um Quíron bastante aspectado é (mostra) igualmente o caminho para a cura do eu (ou ego). Com freqüência poderosas quadraturas e oposições de Quíron com os planetas interiores estão levando o nativo a uma grande cura interior.
Quanto aos nodos lunares, podemos dizer que Quíron em aspecto com os mesmos indica uma ligação kármica com a arte da cura, devendo o indivíduo fazer uma análise mais direta das energias envolvidas, de forma a sintonizar mais e melhor a acentuação que deve dar ao conhecimento do seu dharma (Quíron + nodo norte) ou karma (Quíron + nodo sul), tendo como referência o foco vinculado com saúde e cura.
Mapa da descoberta